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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

«Páginas de liberdade», um filme inesquecível sobre a importância da leitura e da escrita catártica de diários

   «Páginas de liberdade» é um filme muito emotivo sobre a vida de uma professora no seu primeiro ano  de serviço, cheia de sonhos, entusiasmo e ideias inovadoras, que acredita que as pessoas podem mudar através dos livros que lêem, mas sobretudo que podem agir para melhorar as suas vidas e que podem encontrar na escrita uma espécie de catarse libertadora.
   Miss G é colocada numa escola de perifieria e cabe-lhe lecionar Inglês a uma turma com alunos de etnias  e raças diferentes, oriundos de famílias marginalizadas, pertencentes a gangs rivais e que apenas frequentam a escola por vontade dos pais ou ordem dos tribunais. Todos eles viram pessoas próximas morrerem e todos viveram vidas difíceis. A revolta patente nas suas atitudes deve-se, sobretudo, ao facto de eles próprios terem sido abusados nos seus direitos de crianças e jovens, negligenciados e ao sentimento de perda, daí a sua tendência para a violência e agressividade. Miss G entende isto  melhor que ninguém e percebe que eles precisam de ajuda. Com o decorrer das aulas, os alunos entravam em conflito uns com os outros e defendiam os que pertenciam aos seus gangs, dentro e fora da sala de aula. Contudo, a professora nunca desistiu, pois percebeu que estava ali para cumprir a sua missão: ajudar aqueles alunos, insignificantes aos olhos de outros, mas que, a seu ver, tinham algo de especial para partilhar com o mundo.
   No início, as suas aulas eram sistematicamente interrompidas e muito complicadas, mas graças ao seu empenho  e teimosia ganhou a confiança dos alunos. Foi necessário persistência e muitas estratégias e jogos diferentes até eles começarem a mudar. Os outros professores consideravam que aqueles alunos eram demasiado perigosos e não mereciam nem sequer um livro, quanto mais frequentar a biblioteca. Miss G decidiu então comprar ela própria um livro especial para cada aluno da turma com o intuito de os motivar para a leitura. Fê-lo com o seu próprio dinheiro, acumulando outro emprego e pondo em risco o seu casamento por se dedicar demasiado à escola e a uma família que não era a sua, mas resultou. De seguida, ofereceu-lhes o «Diário de Anne Frank». Os alunos ficaram admirados, nunca lhes tinham dado livros novos. Entusiasmaram-se com o livro, escrito por uma adolescente que sofria como eles, com as mesmas ânsias e alegrias também e liam, liam, liam e achavam que aquele livro tinha algo a ver com eles. Então a professora decide, de seguida, comprar um caderno para cada um deles poder escrever, como um diário que poderiam deixar todos os dias no armário, para Miss G ler o que haviam registado. Foi uma surpresa quando a professora verificou que todos os cadernos estavam lá para ela ler e que todos tinham imensas histórias dramáticas para contar e que a escrita, de facto, os estava a ajudar a reencontrar o caminho a seguir. Ficou contente, pois percebeu que, finalmente, ganhara a confiança deles e a sua missão estava a dar resultado.
   Os alunos foram -se conhecendo melhor e já queriam ir às aulas, sentiam-se bem, no seu espaço e naquela "família" de colegas até que um dia manifestam o desejo de conhecer a senhora que escondera Anne Frank, Miss Giepps. Com grande entusiasmo, imediatamente todos concordaram e começaram a organizar-se para que este projeto fosse possível: escreveram cartas para convidar a senhora, onde também falavam de si, angariaram fundos, fizeram festas, cada um deu o que tinha de melhor e finalmente, alguns dias depois, para espanto de todos os outros professores e com grande destaque na imprensa, chegou o dia e lá estava a senhora. Ouviram-na com todo o respeito e atenção e prepararam várias perguntas. Foi um momento muito emocionante e de grande aprendizagem.
   Pouco tempo depois, as aulas estavam já a acabar e os alunos dão-se conta de que não poderiam ficar  com a mesma professora no ano seguinte: a professora que mais os apoiara, ajudara a crescer e a amadurecer e tanto os marcara. O desânimo é geral e decidem que a escola perderia o interesse, deixariam de querer aprender  e voltariam às suas vidas desorganizadas e turbulentas, pois o elo que os ligava à professora, à cultura  e à escola iria perder-se. Lutam e conseguem, em conjunto, fazer a Direção e os quadros superiores entender isso.
   Esta é uma história verídica e os seus diários foram publicados ( «The freedom diary writers») e, na verdade, todos os alunos conseguem  ser então os primeiros do seu meio e das suas famílias  a terminar o liceu e alguns deles continuaram mesmo com Miss G como  professora de Inglês na Universidade.
   Esta é também  uma história sobre heróis do dia a dia. Heróis anónimos: professores e alunos. Pessoas que não perdem a esperança. Pessoas que dão o máximo em silêncio sem esperar em troca. Professores que se empenham para criar melhores leitores e melhores pessoas. Professores que sabem que aprender a ler é sempre aprender a Ser melhor, Pensar melhor, Escolher e Agir melhor.


Foi um filme que nunca esqueceremos.

(9ºC e professora Rogélia Proença, texto melhorado)